Treino Individual no Desporto - Devo ou não fazer?

TREINO INDIVIDUAL NO DESPORTO

DEVO OU NÃO FAZER?

A introdução de um treino individualizado, fora da prática e do contexto desportivo ainda não é consensual entre todos os stakeholders envolvidos no Desporto. Hoje vamos tentar responder a esta questão e demonstrar se é ou não vantajoso optar por esta prática.


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Treino de Equipa de Futebol no Ginásio

Esta talvez seja a batalha mais épica de fisioterapeutas e Strenght & Conditioning Coaches vs Equipas Técnicas no que ao mundo do Desporto diz respeito, quer a nível amador, profissional ou no alto rendimento, devido à inexistência de um consenso alargado e universal. 

Esta lacuna, conduz muitas vezes a episódios de desgaste, conformismo e até frustração de muito dos fisioterapeutas que acreditam poderem ser motores de mudança para a redução das Taxas de Incidência e/ou Prevalência de Lesão e ao invés disso acabam impávidos e serenos a assistir às suas subidas galopantes com uma solução guardada no bolso que ninguém quer usar e com uma culpa atribuída que não lhes pertence.

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Número de Lesões de Ateltas abaixo dos 19 anos nas diferentes modalidades nos EUA

O objetivo deste artigo passa por, através do escrutínio da validade científica, desmistificar algumas das crenças mais comuns ligados ao treino individual fora do contexto desportivo e procurar saber se existe ou não validação de este tipo de prática.

1. Treino no Ginásio vai Aumentar a Fadiga no Desporto?

Este factor apenas poderá ocorrer caso o tipo de treino e a forma como é controlado seja inadequado. A ciência diz-nos que uma das melhores metdologias de garantir um decréscimo dos índices de fadiga ao longo da época passa por um tipo de treino epecífico: o Treino de Resistência ou Endrance. 

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Este tipo de treinos têm demonstrando melhorias significativas a nível da Fadiga, quando aplicados num período de 9 semanas a anteceder o período competitivo. Recomenda-se portanto que o foco deste trabalho de endurance deva estar presente antes até da pré-época devendo ser reforçado não só nos treinos dentro de campo mas também fora do mesmo durante a pré-temporada.

Além disso outros estudos têm demonstrado que atletas que aumentem a frequência e a intesidade de treino (de forma controlada) pode obter benefícios além da redução da fadiga periférica dos músculos, como a redução da fadiga do Sistema Nervoso Central e até a fadiga do Sistema Nervoso Autónomo, responsável pela regulação do nosso ritmo cardíaco e respiratório 


2. Treino de Ginásio com "Pesos" vai-me deixar mais lento?


Não! Nunca! Pelo contrário, "levantar pesos" tem demonstrado aumentar a velocidade. 

Vamos olhar para a Biomecânica e tomar um elástico como exemplo

Sempre que o elástico se afasta produzimos uma força que denominamos de força elástica, sempre que o aproximamos produzimos outra força que vamos chamar de contrátil

Para produção de força máxima é necessário que haja produção de força suficiente para vencer a
maior resistência elástica possível, isto é, quanto mais esticarmos o elástico, maior a probabilidade de produzir maior potência e velocidade de contracção, isto se as nossas fibras musculares conseguirem-se aproximar o mais rápido possível também e para isso têm de ser capaz de vencer essa mesma resistência

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Portanto para adaptarmos o nosso corpo a ter capacidade para realizar essa produção de força temos de expô-lo a um estímulo de resistência no comprimento máximo em que ele consegue tolerar essa mesma resistência. Portanto para o aumento de produção de velocidade vamos querer trabalhar segundo estas variáveis: 1 - amplitude de movimento; 2 - velocidade de contracção e 3- Carga/Resistência. 

Contudo isto só não chega, falta uma grande e fundamental parte desta equação: ESPECIFICIDADE = capacidade de transferência destes fundamentos para o contexto onde se vai desenvolver a tarefa/actividade a desempenhar.

A melhor maneira de garantir a optimização deste recurso seria testando expondo um indivíduo a múltiplos contextos dentro da sua actividade física até descobrir qual deles potenciaria os melhores resultados. No terreno isso é impossível de o fazer, por isso, o mais sensato, será recorrer à análise biomecânica do indivíduos e combinar essa informação com as linhas orientadoras disponíveis na literatura científica.

Strength is specific

3. Treino em campo é suficiente para melhorar a minha condição física e prevenir lesões?

Não! De todo. A literatura científica tem-no provado cada vez mais, e no campo estas provas têm sido constantemente validadas, tendo inclusive levado à criação de um especialista que visa melhorar a condição física do atleta e a sua resiliência à lesão, o Strenght & Conditioning Coach. 

O treino individual tem como objectivo fundamental trabalhar com as condicionantes motoras (potência, resistência, velocidade, etc) visando a determinação de quais e quanto as queremos trabalhar, como irão ser medidas, como irão ser desenvolvidas e por fim geridas durante o período de pré-temporada e durante o período competitivo.

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Eis as inúmeras razões que a justificam:

#1 Especificidade/Individualidade - Os desportos colectivos os treinos têm como objectivo fundamental potenciar o rendimento colectivo e não um foco individual, logo a principio de especificidade individual não se cumpre neste sentido. Além disso, nos treinos (quer em desporto colectivo, quer em desporto individual) o objectivo passa por melhorar o rendimento, tendo em conta as valências técnicas e cognitivas do atleta. Muitas das vezes os treinos não chegam para expor o corpo a todo o tipo de estímulos e de variabilidade de condicionantes motoras, e neste aspecto especifico, o treino individual impede muitas vezes a deterioração de condicionantes motoras que podem não estar a ser foco do treino durante este período e permitindo aos treinadores, em certos períodos, desenvolver aspectos mais específicos do rendimento sem terem de se preocupar com a manutenção de algumas destas capacidades.

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#2 Variabilidade - Uma das melhores formas de prevenir lesões é exposição a estímulos diferentes. Este princípio permite aliviar o stress neuro-muscular a que as estruturas são sujeitas em rotinas de treino de alta-intensidade, substituindo-o por um estímulo diferente.


#3 Adaptabilidade - Qual a melhor forma de dar capacidade a um atleta de ter capacidade resistir a uma maior frequência e carga em treinos de alta intensidade? Expondo-os ao mesmo. Estudos recentes têm demonstrado que um atleta que treina mais terá sempre maior resiliência e menor probabilidade de contrair lesões vs um atleta menos treinado. Sabemos contudo que treinos de alta-intensidade podem levar à fadiga e que estes acrescentam o risco de lesão mas para isso basta respeitar a...

#4 Periodização - um conceito que visa controlar os picos de desempenho e rendimento físico de um determinado indivíduo, através somação de adaptações a diferentes tipos de treino, que são controlados através de fases pré-determinadas (mesociclos).

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Este modelo tem demonstrado ser fundamental na gestão das condicionantes motoras (potência muscular, resistência muscular, etc), contudo, não tem demonstrado resultados significativos a nível do rendimento desportivo, razão pela qual, a periodização em treino poderá não ter um transfer nem a nível das capacidades físicas e motoras (porque não são o foco principal durante o treino) nem a nível do rendimento (não há literatura de momento que a suporte).

Portanto: Treino Individualizado. Devo ou não fazer?

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Deixo-vos assim com esta reflexão. Espero que tenham gostado.

Saudações Terapêuticas.

Bernardo Pinto


Referências:

https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/44735151/Autonomic_recovery_after_exercise_in_tra20160414-5844-d1q422.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1535124632&Signature=2uR4Meow8Y4I9RXGg%2FTOPHWdjX8%3D&response-content-disposition=inline%3B%20filename%3DAutonomic_Recovery_after_Exercise_in_Tra.pf

https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00421-018-3950-8

https://www.stopsportsinjuries.org/STOP/STOP/Prevent_Injuries/Conditioning_Tips.aspx

https://bjsm.bmj.com/content/early/2016/01/12/bjsports-2015-095788

https://www.researchgate.net/publication/301290015_Training_Periodisation_an_Obsolete_Methodology

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